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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Inversão de valores!

Hoje dia 9 de julho de 2014, um dia após a eliminação da seleção brasileira de futebol  na Copa do Mundo,
o país ainda "chora" e lamenta um dos maiores vexames da história do nosso esporte. Como todo bom brasileiro e ser humano normal, não gosto de perder, mesmo sabendo que se trata de um esporte. De nada adianta ser hipócrita e falar para você leitor, que fique indiferente com essa situação, que não sinta nada, quando na verdade EU odeio perder, quero ganhar sempre, apreciar o doce gosto da vitória. 
Poderia aqui discorrer em várias linhas sobre os motivos que nos levaram a esse fracasso estrondoso, transcrever as piadas que ouvi nas redes sociais, postar as montagens e imagens feitas por humoristas, mas vou deixar isso para 90% dos meios de comunicação que estão justificadamente pautando esse assunto. O futebol faz parte da vida do brasileiro, não há como negar isso, e a mídia correta e espertamente, faz uso disso para sobreviver. A Copa do Mundo gerou receitas consideráveis para o país e deixará um legado muito positivo para todos. Ao contrário da "maioria" eu fui a favor da Copa do Mundo no Brasil, a longo prazo colheremos os frutos que ela semeou. Sou cético em afirmar que se não fosse por ela, muitas obras de mobilidade urbana (que para ela foram construídas) não teriam saído do papel. 
Não escondo de ninguém que adoro praticar esportes, sobretudo o futebol em si. Além de praticar também gosto muito de assistir, no entanto nem por isso farei de hoje um dia trágico, usarei esse tempo para relatar problemas que na minha singela opinião são realmente relevantes para a sociedade. 
Há cerca de uma ano assisti um documentário do canal de TV por assinatura National Geographic, onde eram retratadas as condições sub-humanas em que as mulheres da Índia viviam, os abusos e atrocidades as quais eram submetidas. Já tinha certo conhecimento sobre isso, pois já havia lido algo aqui e acolá. A medida que o documentário era exibido, mais vontade me dava de fazer algo para ajudar a mudar esse cenário. Quando do fim do documentário um sentimento de raiva e ao mesmo de impotência fizera que, "por conveniência" fosse melhor eu esquecer aquilo, afinal o mundo não era perfeito, e cada país tem um cultura ímpar difícil de ser alterada. E assim deixei que um outro programa de televisão ocupasse meus pensamentos naquela noite.
Para minha surpresa no programa Fantástico da rede Globo, no domingo pós classificação da seleção brasileira de futebol à semi final da Copa do Mundo, onde o assunto predominante era a lesão do craque Neymar (que lamentei muito também), sobrou tempo para uma reportagem sobre o tratamento dado a mulher na Índia. Todo aquele meu ímpeto de fazer justiça moral, que havia esquecido, começara a voltar. Antes que a reportagem começasse, comentei com meus familiares que o tratamento que era dado as mulheres naquele país era revoltante, e que eles se impressionariam com ele.
Na Índia a sociedade é dividida em castas, em uma pirâmide onde os mais poderosos ficam no topo e os mais pobres na base. Assim como no Brasil, na Índia a imensa maioria da sociedade é formada por pessoas de baixa renda, no entanto lá isso tem um agravante muito sério no que tange à parte feminina dessa classe.
A mulheres indianas, que são lindas, enfrentam problemas sociais que nem deveriam passar pela cabeça de um ser humano que vive no século XXI. Elas são constantemente abusadas sexualmente, estupradas, violentadas pelo simples fato de serem mulheres de classe baixa. Casos de mulheres, e de adolescentes que tiveram seus rostos e corpos deformados por ácido jogado por homens, na tentativa de demonstrar superioridade.
Eu pergunto: que superioridade é essa? Isso é inferioridade em todos os sentidos. Inferioridade de neurônios, de respeito, de sentimentos, de racionalidade. Não tenho palavras para descrever o sentimento que fiquei ao ouvir novamente aqueles relatos.
Outro fato absurdo é o aborto de fetos do sexo feminino, muitas famílias abortam seus filhos por não terem condições de arcar com os problemas que envolvem a criação de uma mulher no país.
Todos os números sobre violência envolvendo as mulheres apresentados pela reportagem são alarmantes, cerca de seis mulheres são estupradas por dia, também foram registrados quase 300 casos de uso de ácido para violentá-las, somente em 2013. Há um ponto destacável na reportagem onde a repórter procura o advogado de uma adolescente que teve seu rosto deformado por ácido, para ouvir mais sobre o ocorrido. Perguntado sobre o caso ele disse que a adolescente tinha parcela de culpa, que ela havia contribuído com o que houve. Ela não devia andar sozinha pela rua, devia ficar em casa. Não preciso nem dizer que esse foi o estopim para a revolta de todos que acompanhavam a matéria.
No país em que a vaca tem mais valor que um ser humano, não podemos nos surpreender que a mulher seja considerada um problema social. Essa inversão de valores é ridícula, intolerável, chega a doer na alma.
Essa inversão de que falo, não está somente no absurdo de idolatrar uma vaca por ela ser uma vaca, enquanto uma mulher é apedrejado pelo simples fato de ser mulher. Essa inversão abrange muitos outros valores, é muito mais generalizada do que imaginamos. Essa inversão se dá quando apoiamos incessantemente uma campanha para escolher qual gol foi o mais bonito, ou qual uniforme nossa seleção deve usar. Questões fúteis, muito menores e que não são só exclusividade do futebol e de outros esportes, mas de várias áreas de entretenimento e lazer que devem ser preocupações secundárias, ou terciárias. Nos preocuparmos excessivamente com coisas de menor relevância e fechamos nossos olhos para situações que merecem a nossa total atenção. Já é passada a hora de mudarmos esse panorama, mudarmos as nossas atitudes, torná-las mais racionais, em prol da humanidade.
Sei que o lazer é um Direito de todo cidadão brasileiro, assegurado pela nossa Constituição. Se temos obrigações e deveres, também podemos usufruir dos nossos direitos! Não estou pregando que devamos tomar todo nosso tempo ocioso tentando salvar o Mundo, só não vamos usá-lo em coisas insignificantes aos olhos da racionalidade.
A ONU está ciente desses problemas e está intervindo para que eles sejam sanados. É notório que as Nações Unidas nos representam também, entretanto será que nós (subjetivamente) não podemos fazer algo para tentar sanar esse problema abominável? Às vezes pequenos atos somados a outros pequenos atos repercutem muito mais do que podemos imaginar!

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