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terça-feira, 25 de junho de 2013

O despertar de uma nação

Quando acordei pela manhã e fui tomar meu café, escutei inúmeras informações sobre os diversos protestos ocorridos Brasil a fora. Ouvi atentamente o que o noticiário dizia enquanto comia meu sanduíche. Quando terminei, me arrumei e fui trabalhar. Já havia acompanhado durante a noite, na mesma hora que tentava dormir, tudo relacionado aos protestos que aconteciam na capital gaúcha. A noite foi mal dormida, creio que aqueles que moravam aos arredores dos locais onde ocorriam os protestos tiveram mais problemas do que eu para dormir.
Já deixo aqui, preliminarmente, da mesma forma que a imensa maioria dos protestantes e da população brasileira, o meu repúdio à qualquer espécie de violência e vandalismo aplicado na execução dos protestos.
Caminhando pela rua até o meu o local de trabalho, vi inúmeros estabelecimentos comerciais e estabelecimentos de outros gêneros danificados ou destruídos. Lamentei, mas não me surpreendi, já sabia  pelo noticiário desses atos irresponsáveis, e conhecendo esse tipo de manifestação, a julgar até a alta hora que se estendeu, não terminaria de maneira diferente. Cheguei ao meu destino e pus me a trabalhar, mas antes li os jornais para saber mais informações sobre o ocorrido na noite anterior.
Fiquei sabendo que ao contrário do que os meios de comunicação e o próprio jornal disse, o país não parou para acompanhar essa mobilização. Ao contrário, enquanto a nossa atenção era voltada para esses acontecimentos, inúmeros outros transcorriam sem o mesmo tento. Enquanto os protestos contra violência aconteciam nos centros das grandes cidades, simultaneamente a eles diversos crimes eram cometidos em todo o país.
Enquanto os protestos em favor da redução da passagem, ou o passe livre dos transportes coletivos atingiam seu ápice, simultaneamente a eles dezenas de pessoas adentravam a madrugada esperando um ônibus que não chegaria.
Todos sabem que uma das premissas básicas da física é que toda ação culmina em uma reação. Quando o “povo”, digo vândalos, queimam lixeiras, o lixo é jogado no chão. Quando o “povo”, digo baderneiros, quebram as vidraças e os móveis de um restaurante, é o povo que fica sem ter onde almoçar no dia seguinte. Esses atos impensados possivelmente poderiam originar novos protestos por parte da população. Manifestações condenando a falta de bons modos e a falta de restaurantes com vidros mais resistentes.
Ou não caberiam esses protestos? Não se pode banalizar os protestos, a tal ponto de deixá-los sem sentido algum.
Vamos mudar o ar preconceituoso que existe acerca de um protesto. Vamos tornar esse manifesto algo efetivo, sem que ele perca a sua finalidade precípua. Mas para isso precisamos que os próprios manifestantes resolvam retomar o espírito puro do protesto.  Um protesto pacífico, acima de tudo se faz com paz.
Um protesto é uma manifestação de vontade, que pode ser feito de forma individual ou coletiva. Eu posso fazer greve de fome em nome da paz no mundo. Dificilmente alguém que não fosse da minha família se importaria comigo, e dificilmente meu protesto teria a repercussão que eu desejaria ter. Com a onda de manifestações o significado da “milenar” frase “uma andorinha só não faz verão” começa a ter a sua hermenêutica muito difundida.
Os protestos não são exclusividade nacional, eles ocorrem desde sempre. Ocorriam quando a plateia do coliseu desejava ter sua vontade atendida pelo imperador. Ocorria quando milhares de mulheres reivindicavam a igualdade de direitos em relação aos homens.
Todos os protestos que temos visto são as expressões do inconformismo do povo frente ao que o seu país se tornou. Não é em função da passagem de transporte coletivo mais barata, nem em função da queda de um parlamentar, ou do impeachment presidencial que eles começaram, ou que terminarão. Os protestos devem deixar de ser simples reivindicações para tornarem-se realidade. Sair do plano abstrato e ingressar no plano concreto. O protesto está diretamente atrelado à uma condição de cidadania, a um Direito, a uma prerrogativa fundamental do ser humano. “SER HUMANO” esse sim um espécime com significado transcendental que está em extinção não só no Brasil, mas em qualquer outro país. Membro fundamental da sociedade, o “SER HUMANO” é que seria causa nobre merecedora de um enorme protesto pedindo pela sua preservação.
Os Direitos inerentes ao princípio da dignidade humana não deveriam ser reivindicados em manifestações públicas, pra bem da verdade nem deveriam ser discutidos, deveriam ser incorporados naturalmente ao nosso cotidiano.
Agir protestando, é acima de tudo mostrar ao homem seu lado humano, o lado coerente que a muito foi esquecido. Muitos dos que pedem a redução do valor da passagem de ônibus, são os mesmos que não cedem seu acento para o idoso, ou para a gestante que no coletivo está de pé. Aqueles que pedem a cassação do mandato do Renan Calheiros, nem sabem ao certo qual função política ele exerce. Os que pedem o impeachment da presidente Dilma não fazem ideia da origem e significado da palavra que tanto gritam. Os que clamam por paz, quando podem agridem aos outros mesmo que seja só com palavras. Os que pedem uma solução urgente para o congestionamento e a violência do trânsito, muitas vezes usam seu veículo para ir até a padaria da esquina, ou aceleram seus carros para atravessar o semáforo, quando da transição do sinal amarelo para o vermelho.
O governo é formado pelo povo, e é ele quem deve conduzi-lo. Algumas atitudes dos governantes não condizem com a necessidade da população. De que adianta divulgar o salário do funcionário público, ou os gastos da administração? O governo presta contas, mas essa matemática improvável só fecha no papel que mal chega aos nossos olhos. A crença popular está convicta de que o governo subtrai mais do que soma. Não há como condenar essa suspeita da sociedade, são incontáveis escândalos que apontam para essa conclusão. Cabe ao governo mudar essa opinião já quase consolidada. Milhões de pessoas recebem salários maiores que os funcionários públicos e não tem os seus contracheques expostos. A perspectiva dessas pessoas de agirem com boa-fé em suas condutas é a única garantia que temos de que eles prestem seu compromisso como contribuinte. E se eles não contribuem da mesma forma que os funcionários públicos? Criamos uma imagem deturpada do governo e dos funcionários que o constituem. Se não confiarmos naqueles que nos representam, não precisaríamos de representação, poderíamos nós mesmos nos autogovernar. Aí retornaríamos a idade das cavernas, regrediríamos ao status anterior a sociedade organizada. Daríamos espaço para que a anarquia assumisse uma vaga que perdeu por incompetência.  Acho que esse seria um estágio retrógrado que não poderíamos sequer cogitar em retomá-lo.
De que adianta o povo se rebelar contra tudo? Vamos refletir sobre algumas situações que estão passo a passo modificando o cenário da nossa nação.
Quando penso que um terço do ano trabalhado é destinado para pagar “meus” impostos, fico muito chateado. Lembro-me da Europa, onde existem cidades em que os impostos cobrados pelo governo chegam à metade ou até mais da metade dos ganhos financeiros do trabalhador em um ano. Essa informação me traz um alento momentâneo, uma falsa impressão de alívio por lá não ter nascido. Digo falsa, pois nessas cidades os impostos pagos resultam em contraprestação imediata, em benefícios ao cidadão. Nessas cidades os serviços públicos superam em muito os aqui oferecidos. Saúde, educação e transporte são modelos a serem seguidos em todo o mundo.
Mas não vá pensar que todos os serviços prestados são excelentes, pois eles não são! É impossível que haja a perfeição no atendimento de centenas de milhares, de milhões de pessoas, entretanto esse serviço é suficiente para suprir a demanda da população.
Não sou o dono da verdade, muito menos uma figura santificada, cometi muitos desses atos acima descritos como reprováveis. Ao vê-los hoje, sob uma nova ótica, percebi o quanto ignorante, e quanto anti-protestos eu era. Não quero voltar a ser o que eu era antes, e também não quero deixar de evoluir. Eu moro no Brasil, eu visto a camisa da minha seleção, eu nasci aqui e aqui eu vou morrer. Só espero que essa última afirmativa não aconteça tão cedo, desejo participar ativamente dessa transformação pela qual nosso país passa.
Foi o povo, que ao mobilizar-se, fez com que o governo reduzisse as tarifas das passagens, dos produtos e serviços, em medida de extrema urgência. Foi o povo, que ainda nos primeiros passos dessa revolução já alcançou resultados favoráveis. Mas é junto do seu governo que o povo pode alavancar toda uma nação. Caminhemos juntos rumo a um futuro melhor, será unido ao seu governo que o cidadão justificará a sua condição de ser humano.
Mais uma página recente de nossa história está sendo escrita a duras penas, e a tendência é que ela seja lida constantemente daqui pra frente. Aprendemos muito com novas experiências sociais, mas aprendemos muito mais com nossos erros.

Alexandre Marcolin

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